terça-feira, fevereiro 27

Meios de transportes: é possível mudar?

Desde que eu me entendo por gente, ouço falar que o transporte em Brasília não é eficiente, é demorado, temos que ficar horas esperando, os motoristas não são educados (porque se são, não colocam em prática os ensinamentos, salvo poucos), não utilizam sua faixa no trânsito, avançam sobre os veículos menores, correm demais, freiam bruscamente, a parada de ônibus é pequena, a gente se molha "debaixo" dela, as antigas até eram um pouco melhores, as novas, quentes e quase se não tem onde sentar (esperamos em pé e molhados ou suados), servem mais para os anúncios publicitários.
Hoje faço parte do trânsito, tenho meu carro, tenho minha bicicleta e, graças à Deus, minhas pernas, porque se fosse depender de cadeira de rodas pra circular na cidade livremente, poucos seriam os lugares de acesso, sendo eu ou os cadeirantes independentes. Vários são os obstáculos, ou seja, não percebo caminhos contínuos para esses CADEIRANTES, apenas caminhos pontuais: pare o carro próximo, saia, pegue sua cadeira e vá até ali, bem pertinho, porque se quiser circular mais um pouco, com certeza não irá, pegar ônibus então, van, "vixi"!... Logo na cidade que é patrimônio cultural da humanidade, que ironia...
Circulo pelas vias da cidade para automóveis (na hora do rush cada vez pior), para pedestres (às vezes falta pavimentação), já para bicicletas não existem ciclovias, então eu e muitos amigos nos jogamos nas ruas pela mão da via o que não deixa de ser correto, pois segundo o Código de Trânsito, a bicicleta é um veículo de tração humana, porque ciclovia que eu conheça no DF só existe no Parque Sara e mesmo assim disputada por pedestres, patinadores, skatistas. Posso constatar com mais afinco o que acontece no trânsito. Agora a personificação:
VEJO VANS SEM EDUCAÇÃO, ÔNIBUS EXTREMAMENTE POLUENTES, TRANSPORTES PIRATAS, RESPEITO E CIDADANIA NO TRÂNSITO... EXISTEM??? Os primeiros vejo aos montes, já os dois últimos, poucas vezes.
E agora me questiono e te questiono caro leitor: Por que não mudar? Quando falo mudar, quero dizer que será QUEBRAR PARADIGMAS! Mas sinto que para toda essa mudança, que ao meu ver, seria abandonar o carro, muitos dos dias, e usar mais o transporte de massa ou mesmo outros tipos de transporte, como bicicleta, skate, patins, deveria ter uma estrutura de transportes mais eficiente, de maneira integrada e ambientalmente sustentável, de modo a facilitar a vida do usuário com respeito ao já famoso aquecimento global e para dar exemplo de cidade patrimônio cultural da humanidade que melhor possui infra-estrutura de transportes, deixando Curitiba "no chinelo".
E Brasília tem potencial para isso, pois tem vias largas cortando a cidade, é tudo muito bem setorizado, há possibilidade até de contagem do tempo de modo a prever o horário que o ônibus sai e chega e quanto tempo ele pode ficar na parada esperando. Mas para isso, a cidade necessita de um estudo avançado das autoridades em transportes e vontade, é claro, não só das autoridades, mas dos donos das empresas de transportes, frotas antigas, sem ar-condicionado, bancos duros mal-conservados, ônibus sem manutenção. Temos espaço suficiente para construção de ciclovias em todo o DF. Me pergunto: por que quando estão fazendo ou alargando novas vias não há um estudo ou mesmo execução da ciclovia ou até mesmo da via de pedestre???
A cidade só pensa em carro??? Ou os governantes, urbanistas, que tem o poder de mandar executar??? Quem vive na cidade são carros ou seres humanos??? Está certo que carro é muito bom, mas no próprio Código de Trânsito já está explicitado que o nome é carro de passeio, tem como compreender isso??? E não só isso, muito carro na rua atrasa o trânsito, em outras palavras e agora me lembro do arquiteto, urbanista, ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner , que solucionou a capital do estado, como dito no livro dele que as vias seriam como artérias e veias e os carros, ônibus e outros seriam como gorduras circulando, se você tem muita gordura no sangue tende a entupir artérias. Nas vias ocorre o mesmo.
Ano passado na Bienal de Veneza, a Décima Mostra Internacional de Arquitetura versou sobre Cidades, Arquitetura e Sociedade. As cidades participantes foram: São Paulo, México, Caracas, Bogotá, Nova York e Los Angeles, na América; Xangai, Mumbai e Tóquio, na Ásia; Johannesburgo, Cairo e Istambul, na África e Mediterrâneo; Londres, Barcelona, Berlim e a dupla Milão/Turim, na Europa. Na mostra principal Bogotá foi premiada.

"Este ano, a relativamente compacta capital colombiana, Bogotá, venceu como melhor cidade. Com 6,5 milhões de habitantes e densidades habitacionais médias e altas, distribuídas de forma equilibrada pelo território, a cidade foi apontada pelo júri como exemplo de centro urbano 'prazeroso o olhar, economicamente viável e socialmente inclusivo'. Investimentos em massa no sistema coletivo de transporte público ao longo das últimas décadas revelaram-se, segundo os jurados, fator essencial à qualidade urbana conquistada pela cidade. Assim, na mostra principal, Bogotá apresentou, entre outros, o projeto do TransMilenio Bus System.
Em implantação desde 2000, o sistema se baseia em corredores exclusivos para ônibus de elevada capacidade, inicialmente num percurso com 60 quilômetros de extensão, atendendo até regiões periféricas. Ele simplificou e reduziu em ate 25% o tempo de deslocamentos pela cidade, em virtude da substituição das antigas e caóticas conexões em pequenas linhas municipais. De forma análoga, integrou a mostra o Ciclo de Rutas, malha cicloviária com quase 300 quilômetros de vias, que liga áreas densamente habitadas, notadamente do sul ao nordeste, ao centro de Bogotá. A previsão da administração local é que, nos próximos dez anos, as ciclovias sejam duplicadas na cidade." (Revista Projeto Design dezembro 2006, p. 40-41)

Ressaltando o que está no texto da revista, investimentos em massa ao longo das úlimas décadas, se não começarmos agora, levará mais tempo para conseguirmos qualidade nos meio de transportes em Brasília. Como sociedade, vejo a necessidade de exigirmos das autoridades uma solução. Como futuro arquiteto e urbanista, vejo dezenas de possibilidades de modo a melhorar a cidade, dentre elas: a substituição da frota atual de ônibus para ônibus movido a biodiesel (que o Brasil já produz) e energia solar, implantação do VLT - veículo leve sobre trilhos ou "bonde" - muito utilizado em cidades que preservam patrimônio, não interferindo nas vias de automóveis, de fácil instalação e que transporta uma quantidade maior de pessoas, superando o ônibus, criação de ciclovias efetiva de modo que trabalhadores possam utilizar para seu deslocamento ao trabalho, a integração entre esses transportes, melhorar até a forma de se adquirir o passe estudantil, sendo hoje um absurdo o modo como é feito (POR QUE NÃO SUBSTITUIR PELA CARTEIRA DE ESTUDANTE??? SEM BUROCRACIA IGNORANTE).
Para isso prezo pela necessidade de um grupo disposto a trabalhar para a melhoria da locomoção humana dentro da cidade de maneira que otimize o tempo de deslocamento das pessoas de forma a permitir um ócio criativo ou produtivo pessoal e economizar tempo de vida, na maioria gasto dentro do meio de transporte, evitando assim desgastes físicos e mentais que geram improdutividade no ofício. Com isso visualizo um grupo formado por arquitetos, urbanistas, antropólogos, psicólogos, engenheiros, geógrafos, geólogos, jornalistas, ambientalistas, além de ouvir a população a fim de estudar essa cidade que cresceu de forma abrupta e que hoje pede mais por haver dezenas de invasões não regularizadas.
Apenas nesse trabalho já há um desenvolvimento econômico, pois nessa reestruturação de infra-estrutura de transporte criam-se oportunidades para diversas áreas, construção, tecnologia, combustível, humanas. Portanto faço um apelo aqui de que realmente tenhamos vontade de mudar. É possível? A quem cabe a culpa? Sem culpa, e agora o que fazer?